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II – 55 ANOS DO VILIPÊNDIO CONCILIAR-ECUMENISTA DA VERDADE, e seus festejados gurus!

Continuação do artigo de 1977 de Lenildo Tabosa Pessoa, que já então tinha visto que a descarada manipulção da verdade vinha de alta Sede.

Boff

O «guru» nomeado para explicar o inexplivável desvio naquela que é chamada «Sede da Verdade», foi o frade Raniero Cantalamessa, cujo trabalho de pregador de retiros no Vaticano o tornou voz televisiva de um destaque que deste então não conheceu ocasos, mas triunfos. Ele está em todas como se viu na foto junto ao cardeal Bergoglio abençoado por mãos protestantes. Mas não era o único, pelo contrário, aqui não haveria lugar para todos. Por isto nos limitamos a estes dois outros, Hans Kueng e Leonardo Boff, idolatrados pela imprensa do mundo… e mais alguém.

Kung

«O artigo do “Osservatore Romano” é de extrema gravidade e diz explicitamente que o Concílio Vaticano II deixou cair uma fórmula até então dogmática, abrindo o caminho para sua negação. A negação de um dogma possibilita, porém, a de todos os outros. Sob esse aspecto, pode-se afirmar que a crise que hoje atinge a Igreja é mais grave do que todas as outras que a atingiram ao longo de seus vinte anos de existência, com exceção, talvez da ocorrida no século IV, quando o Papa Libério e todo o episcopado aderiram à heresia ariana, deixando isolado, na defesa. da ortodoxia, o bispo Atanásio, hoje santo.

«Aliás, a semelhança entre o caso de Atanásio e o de mons. Lefebvre é impressionante, como se pode constatar com a simples leitura de duas afirmações do santo reproduzidas por Ricardo Dip no último capítulo de seu livro. Quando disseram a Atanásio que tinha contra si todos os bispos, o santo não hesitou em responder: “Isto demonstra que eles são contra a Igreja”. Por outro lado, observou: “Os católicos fiéis à Tradição, mesmo quando reduzidos a um punhado, eis que são a verdadeira Igreja de Jesus Cristo”.

«Como se vê, tinha-se então, como hoje, um conflito entre a Tradição, heroicamente defendida por um só bispo, e inovações doutrinárias patrocinadas pelo Papa e por todo o episcopado. O cardeal arcebispo de São Paulo, D. Paulo Evaristo Arns, teria dito então, se fosse contemporâneo de Atanásio, que ele estava parado na História e os cursilhistas da época, se existissem, teriam acrescentado que sua concepção do cristianismo era estática e não dinâmica. Entretanto, a posterior canonização de Atanásio, que chegara a ser excomungado (embora se tenha tratado de uma excomunhão por si mesma inválida, como será a de mons. Lefebvre, se chegar a ser aplicada), e o reconhecimento do erro do Papa e do episcopado mostraram de que lado estava a ortodoxia.

«A História se repete em nossos dias com a única diferença de que a heresia promovida a ortodoxia já não é o arianismo mas o modernismo, apresentado por Pio X, hoje também canonizado, não como uma simples heresia mas como o conjunto de todas as heresias.

« O modernismo não é, como o nome pode dar a entender, uma simples adesão ao que é novo, ou moderno, em oposição ao que é antigo. É, pelo contrário, uma complexa heresia, defendida, no começo do século, também por bispos e padres, e que tinha seu ponto de partida no propósito de promover uma atualização – ou “aggiomamento” – do cristianismo com base na filosofia moderna. Seus partidários pretendiam pôr a fé de acordo com o pensamento moderno, promovendo, como dizia um de seus líderes, Loisy, “uma reforma não somente dos estudos eclesiásticos, mas também do ensinamento católico em geral” e do chamado “regime intelectual da Igreja”.

«Em um interessante estudo escrito sobre o assunto (“Palabra”- Madrid- Agosto-setembro de 1973 – págs. 13 e ss.), Garcia de Haro observa que “o modernismo tenta apresentar-se e é, sem dúvida, sua principal alegação, como um cristianismo aberto às exigências do mundo contemporâneo: em diálogo com ele”. Qualquer pessoa que acompanhe, ainda que superficialmente, a atual crise da Igreja sabe que esse é também o objetivo do catolicismo pós-conciliar, como, aliás, admite claramente o artigo do “Osservatore Romano” ao qual fizemos referência acima.

«O modernismo foi condenado por Pio X, na encíclica “Pascendi”, de 8 de setembro de 1907, mas seus fautores, embora afastados de cátedras de ensino, continuaram, com algumas poucas exceções, no seio da Igreja, minando suas bases com a pregação de suas idéias. O Concílio Vaticano II não somente ofereceu a ocasião, mas foi ele próprio a causa de um ressurgimento da heresia, com uma virulência que não tinha no começo do século. Os erros condenados por Pio X passaram a constituir a nova ortodoxia e os defensores da Tradição tomaram-se os novos “hereges”.

«A autorizada confirmação dessa mudança e da renúncia da Igreja a sua própria missão é oferecida pelo próprio Papa Paulo VI, no infeliz discurso de encerramento do Concílio Vaticano II, no qual se encontra este inacreditável trecho: “O humanismo leigo e profano apareceu, finalmente, em toda sua terrível estatura e, em certo sentido, desafiou o Conct1io. A religião do Deus que se fez homem encontrou-se com a religião – porque tal é – do homem que se faz Deus. O que sucedeu? Um choque, uma luta, uma condenação? Podia ter-se dado, porém não se produziu. A antiga história do samaritano foi a pauta da espiritualidade do Concílio. Uma simpatia imensa penetrou-o todo. O descobrimento das necessidades humanas – e são tanto maiores, quanto maior se faz o filho da terra – absorveu a atenção de nosso Sínodo. Vós, humanistas modernos, que renunciais à transcendência das coisas supremas, concedei-lhe ao menos este mérito e reconhecei nosso novo humanismo: também nós – mais do que ninguém – somos promotores do homem”.

«A Igreja pós-conciliar já não é, portanto, o fermento destinado a transformar a massa, nem seus ministros são mais as ovelhas enviadas para o meio dos lobos. Em vez disso, há entre a religião do Deus que se fez homem e a do homem que se faz Deus uma imensa simpatia e a Igreja tenta conquistar o apoio dos que renunciam à transcendência das coisas supremas não permanecendo fiel a si mesma e a sua doutrina, mas adotando, como diz explicitamente Paulo VI, um novo humanismo.

«Não foi certamente por acaso que a Igreja pós-conciliar aboliu o juramento antimodemista que todos os clérigos eram obrigados a fazer, antes da ordenação sacerdotal e da sagração episcopal, desde os tempos de Pio X.

«O Leitor terá observado que, ao citar provas dos desvios pós-conciliares, restringimo-nos aos próprios documentos do Concílio ou a manifestações de Paulo VI ou de órgãos autorizados e estreitamente ligados ao Vaticano, abstendo-nos de citar os inúmeros abusos cometidos em conseqüência das “aberturas” conciliares. Escolhemos esse caminho para mostrar que não têm razão os adversários de mons. Lefebvre quando afirmam que o Concílio foi perfeitamente ortodoxo e permaneceu fiel à doutrina da Igreja e que todos os abusos hoje em moda nascem de deturpações de seus ensinamentos, não se justificando, portanto, a atitude de “rebeldia” tomada pelo arcebispo. A verdade é que o próprio Concílio representa uma ruptura com o passado e com a doutrina ensinada pela Igreja; durante séculos, como verdade imutável e fruto da assistência direta do Espírito Santo.

«De resto, ainda que assim não fosse, os adversários de mons. Lefebvre deveriam perceber que o simples fato de lhes ser possível apoiar, ao longo de anos, sua débil argumentação sobre tais abusos atesta que nada se tem feito para por fim a eles e que, portanto, há uma evidente cumplicidade das autoridades eclesiásticas com essa situação. O fato, em si, bastaria para justificar a reação de mons. Lefebvre, uma vez que tais abusos não dizem respeito apenas a aspectos acidentais da vida religiosa, mas atingem a própria integridade da doutrina. Apesar disso, não são suspensos de ordens os bispos que pregam o marxismo, nem os sacerdotes que profanam a liturgia, nem os “teólogos” que negam dogmas, como Hans Kung, ou a própria divindade de Cristo, como Leonardo Boff. E se a afirmação parece, à primeira vista, desmentida pela redução ao estado leigo de Don Franzoni, a verdade é que o abade italiano há mais de dois anos vinha defendendo o divórcio – e, portanto, contradizendo um ponto da doutrina revelada – sem que nada lhe acontecesse, tendo sido punido apenas na ocasião em que mons. Lefebvre foi suspenso “a divinis”, em uma evidente manobra destinada a dar uma aparência de imparcialidade à perseguição ao arcebispo.

«Os inúmeros sacerdotes e bispos que defendem as posições defendidas por Franzoni, e dos quais há inúmeros exemplares no Brasil, continuam professando tranquilamente suas heresias, enquanto mons. Lefebvre, que não ensina uma só doutrina nova, foi punido por permanecer fiel ao que a Igreja ensinou durante séculos. Entretanto, sua atitude é a conseqüência direta dos solenes compromissos por ele assumidos, inclusive ao fazer, no momento de sua sagração episcopal, o juramento antimodernista. Quem relesse hoje a encíclica “Pascendi”, verificaria sem dificuldade, e talvez com espanto, que quase todas as reformas conciliares – dos grandes princípios contidos nos próprios documentos do Vaticano II e que constituem o “novo humanismo” de Paulo VI às mínimas inovações introduzidas na liturgia (no campo da música sacra, por exemplo) e catalogadas como “abusos” – são justamente as que Pio X condenou em 1907. A identidade é tão perfeita, que a “Pascendi” parece, em seus mínimos detalhes, um documento escrito por um Papa de nossos dias para pôr fim à situação nascida do Concílio.

«Em outras palavras, a situação atual é a mesma que mons. Lefebvre se comprometeu, nos momentos solenes de sua ordenação e de sua sagração episcopal, a rejeitar e combater. Sob esse aspecto, o grave não é que um bispo tome as atitudes que ele vem tomando; muito mais grave é que, em todo o episcopado mundial, só ele tenha coragem de tomá-las.

«O fato mais deplorável posto em evidência pela atual crise da Igreja é, sem dúvida, a falta de coragem de bispos, sacerdotes e fiéis em permanecer fiéis à doutrina que sempre professaram. Há vinte séculos vêm eles repetindo o ensinamento de São Paulo segundo o qual os pregadores de doutrinas novas devem ser considerados anátemas, ainda que sejam anjos do céu os apóstolos; muitos deles conhecem, certamente, através da História da Igreja, episódios como os de Santo Atanásio e de São Sofrônio, que tiveram problemas com os Papas Libério e Honório I por permanecerem fiéis à ortodoxia e hoje são apresentados pela própria Igreja a seus fiéis como exemplos, mas, no momento em que os fatos se repetem, poucos têm coragem suficiente para fazer o raciocínio rudimentar de que, se a Igreja esteve certa durante vinte séculos, quem está certo hoje é mons. Lefebvre e, se esteve errada, não pode hoje exigir credibilidade nem pretender com tanta segurança estar certa em suas divergências com o arcebispo.

«Apoiados em uma falsa concepção da obediência, muitos católicos podem admitir que Papas de ontem tenham errado, mas são incapazes de perceber a evidência de que o de hoje prega um “novo humanismo” ou promove reformas em aberta contradição com o que a Igreja apresentou, durante séculos, como a expressão única de verdades eternas e imutáveis. Não chegam sequer a perceber a contradição entre o ecumenismo pregado pelo Concílio e a atitude antiecumênica adotada em relação a mons. Lefebvre; ou entre a permissão dada aos católicos de assistir à missa e receber os sacramentos de sacerdotes cismáticos, que não reconhecem a autoridade do Papa, e a proibição de que assistam, em Ecône, aos ritos que a Igreja adotou durante séculos e que, segundo o Papa Pio V, não podiam jamais ser modificados; ou ainda a contradição entre a autorização para que todos inventem novos ritos e façam toda espécie de experiência e a proibição a Lefebvre de fazer a experiência da Tradição, segundo sua genial expressão.

«A mesma “Civiltà Cattolica” que classifica como “reações agressivas” a defesa da doutrina contra as heresias de Josef Thomé e lhe atribui “intuições e expressões proféticas”, nega a mons. Lefebvre o direito de ter intuições igualmente proféticas, ou melhor, nega ao Espírito Santo o direito de lhe conceder idêntico carisma e adota, em relação a ele, reações agressivas. De fato, a atitude mais comumente inspirada pelo ecumenismo e pelo universal amor pós-conciliar, em relação a mons. Lefebvre, tem sido a de ataques pessoais destituídos de qualquer aparência de caridade cristã, como ficou evidente por ocasião de sua passagem pelo Brasil. Numerosos bispos, sacerdotes e fiéis pós-conciliares vieram a público, através de pronunciamentos ou de cartas a jornais, atacar o prelado e criticar impiedosamente sua atitude. Ninguém se deu ao trabalho de examinar mais atentamente as razões profundas de sua conduta c até mesmo entre os que denunciam os abusos pós-conciliares há quem adote a atitude curiosa e inteiramente destituída de lógica de por o prelado em pé de igualdade com os “progressistas”, apresentando ambos os grupos como responsáveis pela prática de idênticos erros.

«Mas essa atitude é inspirada por um verdadeiro amor à Igreja e à verdade, ou não é, antes o fruto do medo de assumir a própria responsabilidade e do desejo de procurar um cômodo refúgio à sombra da autoridade?

«É, certamente, a pergunta que muitos farão depois de ler o livro de Ricardo Dip, que temos a honra de apresentar ao público brasileiro. Desenvolvendo uma sólida argumentação, o Autor mostra a falta de fundamento da “opinião tranqüilizante” de que mons. Lefebvre é um rebelde. Seu livro deixa evidente que a luta do corajoso arcebispo não constitui uma contestação nem um desafio à Igreja, mas é a luta de um Atanásio dos tempos modernos e que Lefebvre poderia repetir, com pleno direito, as palavras de Thomas Morus – outro “herege” condenado pelo episcopado de seu tempo e posteriormente elevado à glória dos altares – que abrem o capítulo V: “Se eu tenho contra mim todos os bispos, tenho por mim todos os santos e Doutores da Igreja”.

Lenildo Tabosa Pessoa

São Paulo, 11 de outubro de 1977

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