Pro Roma Mariana

Sedevacantismo Portugal.

Monthly Archives: Agosto 2013

DILEMA DOS ANOS 70: PAULO 6º, PAPA PÉRFIDO OU FALSO CRISTO?

  • Duas IgrejasComo indicado no artigo anterior, publicamos o escrito do padre dominicano francês, Roger-Thomas Calmel (1914-1975), que nos anos Setenta foi tido como um exemplo da resistência à Igreja de Paulo 6º. (Veja-se a página da “Breve Apologia para a Igreja de todos os Tempos lembrada no «Kyrie eleison» de Mons. Williamson (319). Aqui temos a 1ª parte da tradução de Júlio Fleichman do artigo da revista «Itinéraires» (206) publicado em «Permanência» (140-141, 1980).

Ora, a nossa resistência, em relação a do heróico padre que morreu em 1975, sem ter conhecido tudo o que seguiu no espírito ecumenista de Assis, enfrenta a continuidade de fatos medonhos que esse testemunho descreve. Deste pomos em evidência o parágrafo sobre a ruína na Igreja causada pelas “traições de um papa que não poderiam ultrapassar “a duração de sua existência mortal.” Se hoje sabemos que elas continuaram na mesma linha com outros «papas conciliares», então sabemos que se trata da continuidade de um PROCESSO ligado a um plano de metamorfose da Igreja.

Uma resistência que hoje deixa de lado a questão crucial da ilegitimidade de «papas» que promovem tal processo demolidor, intrínseco ao Vaticano 2º, e que portanto falharam – no que comporta a infalibilidade papal na profissão da própria fé, é falsa resistência porque mais que vã é insidiosa. Basta ver o resultado: já decorreu mais de meio século do V2 e ainda não se enfrentou o problema seríssimo dos anti-cristos no Vaticano, que continuam a suceder-se com seus tragi-cômicos atos ecumenistas, sem que os católicos entendam (nem em consciência) que o infiel não tem autoridade sobre o fiel; se têem sobre essa multidão é porque em verdade não se trata mais de verdadeiros fiéis, mas, queiram ou não os lefebvreistas ou guérardistas e quetais, de apóstatas materialiter!

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A IGREJA E O PAPA EM TODOS OS TEMPOS E EM NOSSO TEMPO

R.-T. Calmel, O.P.

 

  • “Se o papa falha, bem entendido no que comporta a sua falibilidade, isto não impede o chefe único da Igreja, o Soberano Padre invisível, de continuar a governar sua Igreja; isto não muda nem a eficácia de sua graça, nem a verdade de sua lei; isto não o tornará impotente para limitar as falhas de seu vigário visível nem para substituí-lo logo por um novo e digno papa, para reparar o que o predecessor deixou estragar ou destruiu, pois a duração da insuficiência e das fraquezas, e mesmo das traições parciais de um papa, não ultrapassam a duração de sua existência mortal.”

Em uma conjuntura tão perigosa, será ainda possível ao simples fiel, ao modesto padre do campo ou da cidade, ao religioso quase sente cada dia mais isolado dentro de sua ordem; será possível a religiosa que se pergunta se ela não foi mistificada em nome da obediência; será possível a todas estas ovelhinhas do imenso rebanho de Jesus Cristo e de seu vigário não perderem a cabeça, resistirem a um imenso aparelho que os induz, progressivamente, a mudar de fé, mudar de culto, mudar de hábito religioso e de vida religiosa, em uma palavra mudar de religião?

Gostaríamos de repetir para nós mesmos com toda a doçura e acerto as palavras de verdade, as palavras simples da doutrina sobrenatural aprendidas no catecismo, que não agravassem o mal mas antes nos persuadissem profundamente, pelo ensinamento da Revelação, de que Roma, um dia, será curada; de que a igreja que vemos, em breve perderá sua aparência de autoridade. Logo essa igreja se transformará em poeira, pois sua principal forca vem de sua mentira intrínseca que passa por verdade, sem nunca ter sido efetivamente desmentida de cima. Gostaríamos, no meio de tão grande catástrofe, de nos dizer palavras que não estivessem muito defasadas com o misterioso discurso, sem ruído de palavras, que o Espírito Santo murmura no coração da Igreja.

1 — Mas por onde começar? Sem dúvida pela lembrança da verdade primeira que diz respeito ao senhorio de Jesus Cristo sobre sua Igreja. Ele quis uma Igreja que tivesse à frente o bispo de Roma, que é seu vigário visível e, ao mesmo tempo, bispo dos bispos e de todo o rebanho. Conferiu-lhe a prerrogativa da pedra a fim de que o edifício não ruísse nunca. Pediu, em uma oração eficaz; que seu vigário, ao menos, entre todos os bispos, não naufragasse na fé de sorte que, tendo-se recuperado depois de quedas das quais não seria necessariamente preservado, confirmasse por fim seus irmãos na fé; ou então, se não for ele em pessoa que fortaleça seus irmãos na fé, que seja um de seus primeiros sucessores.

Tal é sem dúvida o primeiro pensamento de conforto que o Espírito Santo sugere a nossos corações nestes dias desolados em que Roma está parcialmente invadida pelas trevas: não há Igreja sem vigário do Cristo infalível e detentor da primazia. Por outro lado, quaisquer que sejam as misérias, mesmo no domínio religioso, deste vigário visível e temporário de Jesus Cristo, e o próprio Jesus quem governa sua Igreja, que governa seu vigário no governo da Igreja; que governa seu vigário de tal maneira que este não possa comprometer sua autoridade suprema nas desordens ou cumplicidade que mudariam a religião. — Até ai se estende, em virtude da Paixão soberanamente eficaz, a força divina da regência do Cristo subido ao céu. Ele conduz sua Igreja tanto de dentro como de fora e domina sobre o mundo inimigo. Faz sentir seu poder a este mundo perverso, mesmo e sobretudo quando os operários da iniqüidade, com o modernismo, não somente penetram na Igreja, mas pretendem se fazer passar pela própria Igreja.

Pois a astúcia do modernismo se desdobra em dois tempos: primeiro promovendo a confusão entre as autoridades paralelas heréticas com a hierarquia regular, da qual puxa os fios; em seguida servindo-se de uma dita pastoral universalmente reformadora que cala ou que esquerdiza, por sistema, a verdade doutrinal; que recusa os sacramentos ou que torna seus ritos duvidosos. A grande habilidade do modernismo é utilizar esta pastoral do Inferno para, ao mesmo tempo, deturpar a doutrina santa confiada pelo Verbo de Deus a sua Igreja hierárquica, e depois alterar e mesmo anular os sinais sagrados portadores de graças, dos quais a Igreja e a dispensadora fiel.

O chefe da Igreja é sempre infalível, sempre sem pecado, sempre santo, ignorando qualquer intermitência e qualquer interrupção em sua obra de santificação. Este e o único chefe, pois todos os outros, incluindo o mais elevado, só detêm a autoridade por ele e para ele. Ora este chefe santo e sem mancha, absolutamente apartado dos pecadores, elevado acima dos céus, não é o papa, é aquele do qual nos fala magnificamente a Epistola aos Hebreus, e o Soberano Padre: Jesus Cristo. Jesus, nosso redentor pela cruz, antes de subir aos céus, de se tornar invisível aos nossos olhos, quis estabelecer em sua Igreja, alem e acima dos numerosos ministros particulares, um ministro universal único, um vigário visível, que é o único a exercer a jurisdição suprema. Ele o cumulou de prerrogativas: “Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja e as portas do Inferno não prevalecerão sobre ela.” (Mat., XVI, 18-19) — “Sim, Senhor, sabeis que vos amo. Jesus lhe diz: “Apascenta meus cordeiros… Apascenta minhas ovelhas.” (Jo., XXI, 16-18) Pedi por ti a fim de que não percas a fé, e tu, uma vez convertido, confirma teus irmãos.” (Luc., XXII, 32.)

Ora, se o papa é o vigário visível de Jesus que subiu ao céu invisível, não é nada mais do que o vigário: “vices gerens”, aquele que substitui, mas continua outro. Não é do papa que deriva a graça que faz viver o corpo místico. A graça, tanto para o papa como para nós, deriva do único Senhor Jesus Cristo. A mesma coisa quanto a luz da revelação. O papa detêm, a título único, na guarda dos meios da graça – os sete sacramentos, como também da verdade revelada. E assistido, de modo único, para ser o guardião e intendente fiel. Mas, para que sua autoridade receba uma assistência privilegiada, é preciso que ele não renuncie a exercê-la.  Por outro lado, se o papa está preservado de falha quando empenha sua autoridade enquanto infalível, pode muito bem falhar em outros casos.

Se o papa falha, bem entendido no que comporta sua falibilidade, isto não impede o chefe único da Igreja, o Soberano Padre invisível, de continuar a governar sua Igreja; isto não muda nem a eficácia de sua graça, nem a verdade de sua lei; isto não o tornará impotente para limitar as falhas de seu vigário visível nem para substituí-lo logo por um novo e digno papa, para reparar o que o predecessor deixou estragar ou destruiu, pois a duração da insuficiência e das fraquezas, e mesmo das traições parciais de um papa, não ultrapassam a duração de sua existência mortal.

Desde que subiu ao céu, foi assim que Jesus escolheu e providenciou duzentos e sessenta e três papas. Na verdade, somente um pequeno número deles foram vigários de tal forma fieis que os invocamos como amigos de Deus e santos intercessores. Um número ainda mais reduzido caiu em faltas muito graves. No entanto, a maioria dos vigários de Cristo foram apenas convenientes. Nenhum deles, continuando ainda papa, traiu e não poderá trair até a heresia, explicitamente ensinada, com a plenitude de sua autoridade. Sendo esta a situação de cada papa e da sucessão de papas em relação ao Soberano Padre Jesus Cristo, em relação ao chefe da Igreja que reina no céu, é preciso que as fraquezas de um papa não nos façam esquecer, por pouco que seja, a solidez e a santidade do senhorio de nosso Salvador, impedindo-nos de ver o poder de Jesus e sua sabedoria a qual mantêm nas suas mãos até os papas insuficientes, cujas insuficiências contem em limites que não se pode transpor.

2 — Mas para ter esta confiança no chefe invisível e soberano da santa Igreja, sem obrigar-nos a negar as faltas graves das quais não está isento, seu vigário visível, o bispo de Roma; – para pôr em Jesus esta confiança realista que não esconde o mistério do sucessor de Pedro com seus privilégios; – para que o desânimo que pode nos sobrevir, provocado pelo detentor do papado, seja absorvido pela esperança teologal que colocamos no Soberano Padre, é preciso, evidentemente, que nossa vida interior seja toda referida a Jesus Cristo e não ao papa; que nossa vida interior seja baseada não na hierarquia e no papa, mas no Pontífice divino, neste padre que é o Verbo encarnado Redentor, cujo vigário visível dele depende ainda mais do que dos outros padres; com efeito, o Papa é sustentado pela mão de Jesus Cristo mais do que os outros, em vista de uma função que não tem equivalente. Mais do que qualquer outro, a título superior e único, ele não poderá deixar de confirmar seus irmãos na fé, ele mesmo ou o seu sucessor.

A Igreja não é o corpo místico do papa; a Igreja, com o papa, é o corpo místico de Cristo. Quanto à vida interior dos cristãos tem, cada vez mais, como ponto de referência Jesus Cristo, tais cristãos não ficam desesperados, mesmo que sofram até a agonia com as falhas de um papa, seja este um Honório I ou os papas antagonistas do fim da Idade Media ou ainda, como extremo limite, um papa que fraqueje segundo as novas possibilidades de falhas oferecidas pelo modernismo. Para continuarem certos das prerrogativas papais, os Cristãos não tem necessidade de mentir sobre as falhas de um papa, se tiverem em Jesus Cristo o princípio e a alma da vida interior. Sabem que estas falhas nunca atingirão um tal grau que Jesus deixasse de governar sua Igreja por estar eficazmente impedido por seu vigário. Tal papa poderia se aproximar do ponto limite que implicaria em mudar a religião cristã, por cegueira ou por espírito de quimera ou por uma ilusão mortal quanto a uma heresia como o modernismo.

O papa que a isto chegasse não tiraria do Senhor Jesus sua regência infalível que tem na mão o próprio papa transviado, impedindo-o de comprometer na perversão da fé, a autoridade que recebeu do alto.

Uma vida interior que tem como referencial Jesus Cristo e não o papa não poderia excluir o papa sem deixar de ser uma vida interior cristã. Uma vida interior que tem, como deve, sua referência no Senhor Jesus inclui o Vigário de Jesus Cristo e a obediência a esse Vigário, mas em primeiro lugar, servir a Deus: quer dizer que esta obediência, longe de ser incondicional, é sempre praticada na luz da fé teologal e da lei natural.

Vivemos por e para Jesus Cristo, graças a sua Igreja, que é governada pelo papa, a quem obedecemos em tudo o que é de sua competência. Não vivemos pelo papa e para o papa como se tivesse sido ele que nos adquiriu a redenção eterna; eis porque a obediência cristã não pode sempre e em tudo identificar o papa com Jesus Cristo. – O que geralmente acontece é que o Vigário do Cristo costuma governar em conformidade com a tradição apostólica, o bastante para não provocar, na consciência dos fieis dóceis, maiores conflitos. Mas algumas vezes pode ser de outro modo. Ainda que excepcionalmente, pode acontecer que o fiel tenha que se perguntar legitimamente como guardarei a Tradição se seguir as diretivas deste papa?

A vida interior de um filho da Igreja que ponha de lado os artigos de fé relativos ao papa, a obediência a suas ordens legitimas e a oração por ele, tal vida interior deixa de ser católica.

Por outro lado, uma vida interior que inclui ser agradável ao papa incondicionalmente, quer dizer, as cegas, em tudo e por tudo, é uma vida interior que está necessariamente entregue ao respeito humano, que não é livre em relação à criatura, que se expõe a facilidades e cumplicidades. Na sua vida interior, o verdadeiro filho da Igreja, tendo recebido de todo coração os artigos de fé que se referem ao Vigário de Cristo, reza fielmente por ele e lhe obedece de bom grado, mas somente às claras, isto é, estando salva e intacta a tradição apostólica e, bem entendido, a lei natural. É verdade que muitas vezes pregou-se um tipo de obediência em relação ao papa em que se visava mais o sucesso de movimentos de conjunto do que a fidelidade à luz da fé, ainda que tivesse havido resultados espetaculares. Sem dúvida não estava ausente de tal pregação o cuidado de guardar a tradição apostólica e a fidelidade a Jesus Cristo, mas mais importante, mais ativo, mais urgente, era, apesar de tudo, dar satisfação a um homem, atrair-lhe os favores; muitas vezes fazer carreira, preparar a cabeça para o chapéu cardinalício ou dar brilho a sua Ordem ou Congregação. Mas nem Deus nem o serviço do papa tem necessidade de nossa mentira: Deus non eget nostro mendacio.

Lembremo-nos da grande prece do início do Canon romano, este Canon que Paulo VI não hesitou em aviltar, pondo-o no nível das preces polivalentes acomodadas às ceias calvinistas. (Equiparar deste modo o Canon romano não tem o menor fundamento na tradição apostólica e se opõe de frente a esta tradição imprescritível). Assim o padre, no Canon romano, depois de ter instantemente suplicado ao Pai clementíssimo por seu Filho Jesus Cristo, para santificar o sacrifício sem mancha oferecido primeiramente pro Ecclesia tua santa catholica… continua assim: una cum famulo tuo Papa nostro.. . et Antistite nostro. A Igreja nunca pensou em dizer: una cum SANCTO famulo tuo Papa nostro et SANCTO Antistite nostro, mas diz: pro Ecciesia tua SANCTA. O papa, diferentemente da Igreja, não é obrigatoriamente santo.

A Igreja é santa, com membros pecadores, que somos nós mesmos; membros pecadores que não tendem ou não tendem mais para a santidade. Pode muito bem acontecer que o próprio papa figure nesta triste categoria. Deus o sabe. Em todo o caso, já que a condição de chefe da Santa Igreja não é necessariamente a condição de um santo, não devemos nos escandalizar se sobrevierem provacões, e as vezes provacões muito cruéis para a Igreja, da parte de seu chefe visível. Não devemos nos escandalizar pelo fato de que, sujeitos embora ao papa, não possamos segui-lo às cegas, incondicionalmente, em tudo e por tudo. Na medida em que a nossa vida interior tiver como referência o chefe invisível da Igreja, o Senhor Jesus, soberano Padre; na medida em que nossa vida interior for alimentada com a tradição apostólica, com os dogmas, o missal e o ritual da tradição, com a tendência para o perfeito amor que e a alma desta tradição santíssima, nesta medida nos aceitaremos muito melhor ter de santificar-nos dentro de uma Igreja militante cujo chefe visível, se está preservado de errar segundo certos limites precisos, não está, no entanto, subtraído à condição comum de pecador.

3 – O Senhor governa de tal maneira sua Igreja pelo papa e a hierarquia, pela hierarquia submetida ao papa, que a Igreja é sempre protegida na tradição, conhecendo bem a tradição que é a sua, nunca inconsciente nem esquecediça. A Igreja é assistida de tal sorte sobre as verdades do catecismo, sobre a celebração do santo sacrifício e sobre os sacramentos, sobre a estrutura hierárquica fundamental, sobre os estados de vida e sobre o chamado ao perfeito amor, em suma, sobre todos os pontos maiores da tradição, que todo batizado, tendo a fé, seja bispo, papa ou simples fiel, sabe claramente onde se firmar. Assim, o simples cristão que se recusasse a seguir um padre, um bispo, uma colegialidade, ou mesmo um papa em algum ponto importante da tradição que estes arruinariam, este simples cristão que, nesse caso específico se recusasse a deixar-se levar e a obedecer, não estaria dando com isso, como alguns pretendem, sinais característicos de livre exame ou orgulho de espírito; pois não é orgulho nem prova de insubmissão discernir a tradição em seus pontos maiores, ou recusar traí-la. Todo fiel sabe que é inadmissível que padres católicos celebrem a Missa manifestando falta de fé, como, por exemplo, sem marca alguma de adoração ou qualquer sinal de fé nos santos mistérios, ainda que a colegialidade de bispos ou o secretário de alguma congregação romana tenha feito manipulações para esse fim. Aquele que recusa ir a tal Missa, ou melhor, a tal culto que, na maior parte das vezes já deixou de ser Missa, não faz um livre exame, não é um revoltado; é um fiel estabelecido em uma tradição que vem dos apóstolos e que ninguém na Igreja poderia mudar. Porque ninguém na Igreja, seja qual for a sua posição hierárquica, mesmo a mais alta, ninguém tem o poder de mudar a Igreja e a tradição apostólica.

Sei que muitas vezes, dá a impressão de ser farsante ou maníaco o padre que, não tendo adotado a reviravolta do missal e do ritual empreendida pelo atual pontífice romano (Paulo VI), ousa no entanto afirmar: estou com Roma; mantenho-me na tradição apostólica guardada por Roma. – Está com Roma, dizem-me alguns: ora veja! Mas qual é seu modo de batizar, de dizer a Missa? – O modo, digo-lhes, do próprio Paulo VI, até 1970; a maneira mais do que milenar sancionada pelos papas antes de Paulo VI; o modo usado por eles, pelos bispos e pelos padres da Igreja Latina. Faço aquilo que eles fizeram unanimemente, quando mantenho os exorcismos do batismo solene; quando ofereço o santo sacrifício segundo um Ordo Missae consagrado por quinze séculos e que nunca foi aceito pelos negadores do santo sacrifício. Se nós, enfim, ministros de Jesus Cristo que tratamos assim a Missa e os sacramentos, rompemos com Roma e com a tradição da qual Roma e a garantia, por que não fomos atingidos por sanções canônicas cujo cancelamento estivesse exclusivamente reservado ao Vigário de Cristo? Escrevo isto porque é verdadeiro e porque espero confortar alguns fieis que não chegam a compreender esta contradição evidente: estar com Roma seria adotar em matéria aquilo em que ninguém pode precisar até que ponto o atual pontífice romano (Paulo VI) pretendeu comprometer sua autoridade? (Assim também, depois de 10 anos do Vaticano II, ninguém sabe bem até que ponto este concilio pastoral tem autoridade.) Ainda uma vez a tradição apostólica é bem clara sobre todos os pontos principais. Não é preciso olhar por uma lupa nem ser cardeal ou prefeito de algum dicastério romano para saber o que se lhe opõe. Basta ter aprendido o catecismo e a liturgia, anteriormente a corrupção modernista.

Muitas vezes, no que se refere a não romper com Roma, os fieis e padres foram formados com um temor em parte mundano, de sorte que são tomados de pânico, vacilam em suas consciências e nada mais examinam assim que qualquer um acusa-os de não estar com Roma. Uma formação verdadeiramente cristã nos ensina, ao contrário, a preocuparmo-nos de estar com Roma não no pavor e sem discernimento, mas na luz e na paz, segundo um temor filial na fé. (continua)

DESEJO EXPLÍCITO DO PAPA PROFETIZADO POR NOSSA SENHORA

Espera-Advento

 Arai Daniele

A presença de Nosso Senhor Jesus Cristo como Cabeça de Sua Igreja para guiar os homens à ordem neste mundo e à salvação no outro através do Seu Vigário, o Papa católico, é parte integrante de nossa Fé. Segue-se que a submissão ao Papa representante deste Princípio na Igreja de Jesus Cristo é absolutamente necessária à harmonia da paz na Terra na Ordem da Caridade e à salvação na Ordem da Fé.

A existência da definição dogmática desse poder indireto inerente à Doutrina da Santa Igreja está na Bula “Unam Sanctam”, além da encíclica “Quanta Cura” e do Sílabo de Pio IX, e nas encíclicas “Immortale Dei” de Leão XIII e “Quas Primas” de Pio XI.

Todo o Magistério e a sua infalibilidade denotam a origem divina e portanto a presença da Palavra de Deus para regular a vida humana ao bem desta e da outra vida. E como todo governo legítimo tem por fim o bem da sociedade e a felicidade aspirada pelos homens, que só vem de Deus, aplicar a Sua Palavra lhe é de necessidade absoluta.

No Concílio de Nicéia I, sob Silvestre, foi proclamado: Qui tenet sedem Romae, caput est… cui data est potestas in omnes populos, ut qui sit vicarius Christi super cunctos populos et cunctam ecclesiam christianam; quicunque contradixerit, a synodo excommunicatur – (Aquele que detém a Sé de Roma é a cabeça … a quem foi dado o poder sobre todas as nações, é o Vigário de Cristo sobre todos os povos e todas as igrejas cristãs, quem o contradiz seja excomungado pelo Sínodo.)

Nenhum católico verdadeiro pode pensar que haja princípios para reger a ordem do mundo acima dos princípios de Jesus Cristo, Verbo de Deus encarnado.

Como para os «papas conciliares» até Bergoglio a Igreja deveria submeter-se aos princípios anti-cristãos da ONU, se vê que com isto contradizem e portanto demonstram ter suas mentes apartadas do poder vigário de Cristo, única Cabeça da Igreja.

A questão implica, pois, também a necessidade da certeza sobre quem é legitimamente, segundo a Fé e não as aparências, a pessoa que encarna essa autoridade à qual é devida submissão como Vigário de Cristo. Isto, porque, no plano terreno as aparências podem prevalecer sobre a realidade, e visto que é a mesma Fé o critério de reconhecimento, um  erro neste campo pode ensejar o risco de aderir a um «falso cristo» o que corresponde a incorrer no não menos grave risco de infidelidade ao obedecer antes a um homem que a Deus, que é, se reconheça ou não, insubmissão à Palavra de Deus ensinada na Igreja por dois mil anos, e lembrada no Magistério indicado acima.

O aviso desse perigo é evangélico e confirmado por santos, como São Vicente Ferrer que, embora ele mesmo tenha caído nesse erro, considerava-o ao nível da idolatria.

Quem garante a legitimidade do Papa, que na ordem sobrenatural recebe seu poder diretamente de Deus e não da Igreja, é a mesma Igreja que usa o critério da aceitação universal do papa eleito. É fé na comunhão dos santos que reconhece a fé do eleito papa. Sim, porque a condição para ser papa é de ser um confessor fiel da Fé católica. Inútil dizer que um clérigo que professa a «fé modernista» ou uma «nova teologia» implicante outra fé igualmente condenada pelo Magistério, não pode ser papa.

Ora, a Maçonaria, inimiga de Deus e dos homens, tem por objetivo prioritário o abate, ou pelo menos a redução do Poder Pontifício sobre todo o orbe. E já Voltaire afirmava que o Papa privado dessa soberania se reduziria a mero capelão do poder imperante.

Só na integridade da Fé católica subsiste o poder papal, cujos princípios vão reger o poder civil. Este só assim é verdadeiramente justificado perante Deus, podendo dispor da objetividade necessária à consecução eficaz de governo na tranqüilidade da ordem, para a elevação espiritual dos homens em vista de seu fim último.

Assim, quem não professa essa Fé, como poderia receber imediatamente de Deus a autoridade para pô-la em ato?

Aqui surge o tremendo problema de nosso tempo porque tais princípios foram alterados justamente por papas eleitos, que demonstraram favorecer os objetivos da Maçonaria através de atos e documentos conciliares claramente contestáveis, o que tira a certeza da legitimidade de uma autoridade que contraria a sua mesma razão de ser. Por exemplo, a de Paulo 6º que declarou o direito à liberdade religiosa e de consciência e alterou todo rito  litúrgico tradicional. Assim a objetiva incerteza se estendeu aos sucessores «conciliares» e só aumentou desde então em vista dos frutos nefastos de seus atos.

São as leis da mesma Igreja, além dos fatos, a negarem certeza a sua legitimidade na Fé. Todavia, neste mundo em que as aparências prevalecem sobre a realidade, no mesmo mundo católico tradicional prevalece de muito o número dos que aceitam e honram uma «indiscutível certeza» da legitimidade dos «papas conciliares», ao ponto de manter sob acusação o reduzido número dos fiéis que a negam e são acusados de sedevacantismo, quase que o testemunho de uma realidade gritante constituísse uma «nova doutrina»!

Neste sentido surge aqui a grave questão de qual seja a «doutrina» deste mundo de fideístas, isto é dos que antepõem a própria idéia de fé às verdadeiras razões da Fé?

Até hoje estes só segregaram confusões que põem em evidência uma «fé» baseada só na preocupação que perdura: – se essa ilegitimidade papal é real o que podemos fazer? Como não sabem, nem querem saber o que se pode fazer, então essa ilegitimidade não deve ser questionada! Eis a dedução cômoda e ilógica, até de consagrados e professores de tomismo que, na mesma medida que constatam a evidência dessa tremenda realidade, esgotam suas reservas de desculpas para justificar seu vão «habemus papam».

Vamos continuar a falar das causas cruciais da longa vacância papal, lembrando aqui diversos testemunhos importantes do tempo de Paulo 6º, que não refletiam sempre uma preocupação conexa com a realidade da Fé porque se é esta a estar em risco, claramente  a atitude católica deve ser de defesa antes de tudo do necessário e essencial, e depois do contingente, que está ligado às interpretações humanas sobre o que deve nortear o agir.

Entre as últimas tergiversações contingentes, viceja a idéia que mesmo sendo evidente a ausência do verdadeiro papa, ninguém tem autoridade na fé para julgá-la nem em consciência!

Sem essa autoridade se dilui a consistência da ação fiel de respeitar um só Evangelho, fundados na fé e na caridade de anatemizar quem traz outro, seja ele um anjo ou um de nós (Gl 1, 8 e II Jo 6, 11)

Com isto se contradiz o mandato apostólico que dá autoridade a todo fiel para testemunhar e defender a Fé, para si e para os outros fiéis que ouvirem seu público anátema.

A autoridade na fé entre quem traz outro evangelho, seja este um «anjo ou um de nós» (apóstolos), é do fiel que o repudia; este a exerce com a autoridade na Igreja. Esperemos que a «teologia» dos dom Rifan ou frei Lourenço não ouse pretender que o tal anátema só se aplica à autoridade do «apóstolo» que traz o novo evangelho, se vai nisso implicada a infalibilidade, mas que reconheçam esta na autoridade (passiva) do fiel sobre o infiel.

Este fato implica uma incompatibilidade intrínseca, portanto absoluta de autoridade na Fé de quem prega uma nova doutrina. Precisamente em tal incompatibilidade se apóiam Cajetanus e S. Roberto Bellarmino para emitir suas conclusões. Eis porque mesmo se a lei da Bulla Cum ex apostolatus, que não habilita mas invalida o «eleito papa» desviado da Fé, não constasse do Código Canônico, nem assim deixaria de ser sempre uma lei em pleno vigor na Igreja pelo fato de ser ao mesmo tempo lei de Direito divino e fundamento de Direito natural.

A não autoridade do infiel sobre o fiel resulta dessa incompatibilidade intrínseca, ontológica.

Ouçamos o que dizem os Papas. Inocêncio III: “Cum nimis absurdum sit ut Christi blasphemus in Christianos vim potestatis exerceat”, isto é, “ser totalmente absurdo que um blasfemador de Cristo possa exercer autoridade sobre os cristãos” (In. III em IV Lateranense). Não é blasfêmia a degradação da autoridade divina e universal de Cristo? E Leão XIII: “Cum absurdum sit opinari ”, seria absurdo pretender que quem está fora da Igreja possa nela presidir”. Pode quem abusa da autoridade da Igreja para criar outra, ser obedecido como papa?

Horácio na “Epistola ad Pisones” (também chamada Ars Poetica) descreve a monstruosidade ou quimera que resultaria do fato que um elemento estranho a um corpo possa tornar-se nada menos que sua cabeça, artifício que alteraria a natureza de tal corpo, constituindo um «outro», condicionando o seu proceder detectado pelo «sensus Fidei».

Disto há que falar, sobretudo depois de tantos estudos, e não último o de Mgr Tissier de Mallerais, sobre a nova igreja conciliar distinta radicalmente da Católica, em especial no que tange a sua unidade, unicidade e universalidade na Fé.

Nestes dias, voltou-se a citar o exemplo da resistência à Igreja de Paulo 6º, que foi a um tempo profético e pioneiro, do padre francês, o dominicano  Roger-Thomas Calmel (1914-1975). Aqui iremos publicar um seu escrito a propósito, traduzido por Júlio Fleichman da revista «Itinéraires» (206) e publicado em «Permanência» (140-141).

Agora nos basta lembrar algo de uma sua página da “Breve Apologia para a Igreja de todos os Tempos (pp. 48-51) lembrada no «Kyrie eleison» de Mons. Williamson (319), a fim de deixar claro que a nossa resistência em relação a do padre que morreu em 1975, sem ter conhecido tudo o que seguiu no espírito ecumenista de Assis, pode dizer algo mais que a sua importante, mas é limitada em relação ao que nós vivemos deste então na Igreja.

Hoje a resistência que deixa de lado a questão crucial da legitimidade papal é falha, se não nociva.

Padre Calmel dizia justamente: “Por mais tresloucadas que sejam (des aberrations de l’autorité hiérarchique) na Santa Igreja, padres não podem tomar o lugar dos bispos, e nem podem os leigos tomar o lugar dos padres. Estamos nós então pensando em criar uma liga ou associação mundial de padres e leigos cristãos para entrar no diálogo com a hierarquia e forçá-la a restaurar a ordem católica? É uma grande e tocante ideia, mas ela é irreal. Isso porque nenhum grupo que queira ser um grupo da Igreja, mas sem ser uma diocese, ou uma arquidiocese e nem uma paróquia e nem uma ordem religiosa, se encontrará sob alguma das categorias sobre as quais e pelas quais a autoridade é exercida na Igreja. Irá ser um grupo artificial, um artefato desconhecido para qualquer dos grupos reais da Igreja que são estabelecidos e reconhecidos como tais.”

O Fato hoje não é mais simplesmente – “des aberrations de l’autorité hiérarchique”, mas da tresloucada apostasia criadora de outra igreja para uma nova evangelização ecumenista demolidora da Tradição, da Piedade cristã e portanto da edificação do Reino de Jesus Cristo no mundo. Pode quem opera para tal destruição da Igreja ter autoridade sobre seus filhos? Podem os fiéis submeterem-se à essa hierarquia que, mais que infiel, trai os princípios cristãos e acelera a geral apostasia? Eis a resposta que  a resistência deve dar, pois é esta que, podemos crer, dariam os santos resistentes que já morreram, como os Padre Calmel, o Padre Putti e outros tantos, assim como leigos da têmpera de Gustavo Corção. Dom Mayer nos deixou o seu sofrido exemplo, sobre o qual tanto hesitou Mgr Lefebvre, que porém escreveu que havia anticristos no Vaticano e que chegaria a hora na qual deveria dizer que estes (papas conciliares) não são papas.

Pode uma verdadeira resistência voltar atrás sobre tudo isto sem desonrar seus primeiros heróicos exemplos? Nunca.

Então é preciso coragem na Fé, orar com toda Esperança e Caridade fiéis à Tradição, e cada qual na própria esfera testemunhar a realidade presente sem medo de assumir em consciência o poder e autoridade de nossa profissão católica, pela qual não só se pode, mas se deve anatemizar os portadores da nova religiosidade blasfema do poder universal de Nosso Senhor Jesus Cristo.

E posto que a Soberania da Sua Vontade determinou que os Sagrados Corações de Jesus e Maria deverão reinar juntos, esta Vontade divina deve constituir o cerne da resistência católica hoje no ardente e explícito desejo de merecer que Deus suscite por fim o Vigário de Cristo de que a Igreja carece. Nesta Vontade reside o fundamento e o mesmo fim da Ordem cristã.

Para isto tivemos a promessa divina através do Segredo de Nossa Senhora de Fátima que, como souberam as crianças aterradas pela visão do massacre papal, descreve qual será a ação o Santo Padre católico que será suscitado por Deus para por fim cumprir a Sua adorável Vontade:: “Em Portugal se conservará sempre o dogma da Fé. Por fim o meu Imaculado Coração triunfará. O Santo Padre consagrar‑me‑á a Rússia, que se converterá, e será concedido ao mundo algum tempo de paz.”

 

INFLUÊNCIA ONTOLÓGICA DA VONTADE SOBRE A INTELIGÊNCIA

SERPENTE

A tentação de Adão e Eva pela serpente diabólica e a expulsão deles do Paraiso, representadas na Capela Sixtina

Alberto Carlos Rosa Ferreira das Neves Cabral

Escutemos São Pio X, na sua encíclica “Pascendi Dominici Gregis” de 8 de Setembro de 1907:

SEGUNDA PARTE

Para mais a fundo conhecermos o modernismo, e o mais apropriado remédio acharmos para tão grande mal, cumpre agora, veneráveis irmãos, indagar algum tanto das causas donde se originou e porque se tem desenvolvido.

– Não há que duvidar QUE A CAUSA PRÓXIMA E IMEDIATA DO MODERNISMO É A ABERRAÇÃO DO ENTENDIMENTO. As causas remotas reconhecêmo-las duas: O AMOR DE NOVIDADES E O ORGULHO.

O amor de novidades basta por si só para explicar toda a sorte de erros. Por esta razão, o nosso sábio predecessor Gregório XVI com toda a verdade escreveu (encíclica “Singulari Nos” de 7 de Julho de 1834): [Muito lamentável é ver até onde se atiram os delírios da razão humana, quando o homem corre atrás das novidades, e contra as admoestações de São Paulo, se empenha em saber mais do que convém, e confiando demais em si, pensa que deve procurar a verdade fora da Santa Igreja Católica, onde ela se encontra sem a menor sombra de erro.]

Contudo, o orgulho possui muito maior força para arrastar ao erro os entendimentos; e é o orgulho que residindo na doutrina modernista como em sua própria casa, aí acha à larga do que se cevar, e com que ostentar as suas manifestações. Efectivamente o orgulho fá-los pensar tanto em si, que se julgam e se dão a  si mesmos como regra aos outros. Por orgulho loucamente se gloriam de serem os únicos que possuem o saber, e dizem desvanecidos e inchados: Nós cá não somos como os outros homens; e de facto, para não o serem, abraçam e devaneiam toda a sorte de novidades, até das mais absurdas. Por orgulho, repelem toda a sujeição, e afirmam que a autoridade deve aliar-se com a liberdade.»

Um dos sintomas mais monstruosamente aberrantes da chamada “filosofia moderna” consiste na negação do livre-arbítrio. Todas as concepções que pretendam negar as próprias bases do senso comum da vida humana, ou padecem de grave atraso mental, ou estão de má fé, em qualquer caso não constituem filosofia, em absoluto.

Desde a desagregação das grandes sínteses Tomistas Medievais, a História da Filosofia mais não constitui do que uma longa e profunda decadência, que nos três últimos séculos atingiu os limites da patologia.

Não é que se devam considerar “Loucos” aqueles que, coerentemente, fundamentados num sistema com um mínimo de objectividade, afrontam a Fé Católica nos planos teológico e filosófico. Não. Mas não é menos verdade que a destruição do princípio fundamental da Fé Católica degenera necessàriamente num relativismo que facilita aos espíritos menos fortes a sua precipitação na boçalidade do delito comum, A QUAL AFECTA DIRECTAMENTE A INTELIGÊNCIA – CORROMPENDO-A.

Efectivamente, a inteligência e a vontade constituem duas faculdades ou potências operativas; estas procedem à vinculação entre a essência da alma e os actos, puramente acidentais, de inteligência e de vontade.

Pelo simples facto de SER a alma racional, forma substancial do corpo, simultâneamente inteligível e inteligente, encontra-se transcendentalmente ordenada para a Verdade; numa primeira fase, a Verdade inteligível, imanente na realidade dos entes sensíveis (Objecto proporcionado); ulteriormente, em sentido lógico, a Verdade do Ser, enquanto Ser (Objecto perfeitamente adequado). Exactamente porque é SER, a alma racional possui em si, de FORMA ONTOLÒGICAMENTE INFALÍVEL, os primeiros princípios da razão, e da própria inteligibilidade do SER: Princípio da identidade e não contradição, princípio da analogia metafísica do SER, e princípio da razão suficiente. Todavia essa infalibilidade ontognoseológica torna-se falibilidade no exercício actual e fenoménico da inteligência.

Adão e Eva, no estado de inocência, não podiam errar intelectualmente naquela ordem de realidades que lhes era própria; e eles mesmos não podiam, sem pecar, ultrapassar essa ordem. Podiam IGNORAR, mas não errar; além de possuírem a sua inteligência natural ainda incólume, gozavam ainda da ciência infusa ordenada à sua função de Chefes da estirpe humana, bem como dos Dons Preternaturais da Impassibilidade e Imortalidade; além disso habitavam num mundo COSMOLÒGICAMENTE AINDA NÃO FERIDO PELO PECADO ORIGINAL E PELOS PECADOS ACTUAIS. Todavia, depois do pecado de Adão e Eva tudo entrou em decadência:

Perdidos os Dons Sobrenaturais e Preternaturais, a vida do espírito tornou-se-lhes pesada, opaca; os primeiros princípios da razão, permanecendo intactos enquanto tais, perderam a sua ilustração ao incorporarem-se ao fluxo fenoménico das vicissitudes da vida; por seu lado o mundo, também sofrendo as consequências do pecado original, perdeu a sua Luz, e entrou em desconcerto, por exemplo: os animais que até aí comiam erva, vivendo pacificamente em comum, passaram a alimentar-se uns dos outros; os profetas sempre consideraram a comunhão de vida animal como um dos grandes sinais da paz Messiânica (Is 11, 6-9).

O mesmo sucedeu com a vontade: Para Adão e Eva a virtude era luminosa e fácil, espontânea. Na realidade os nossos primeiros pais, para pecarem, tiveram de exercer tanto esforço, como nós para não pecarmos (pelo menos os principiantes na virtude).

Os atributos transcendentais do SER não são apenas a Unidade e a Verdade, é igualmente a Bondade, à qual a vontade está ordenada. A alma racional, pelo simples facto de SER, ordena-se transcendentalmente, não sòmente à Verdade, mas, como já se afirmou, ao Bem; e assim como possui os primeiros princípios da razão, também possui, ontològicamente, infalìvelmente, os primeiros princípios operativos do AGIR: Pratica o bem, foge do mal.

No estado de inocência, esses princípios incorporavam-se harmònicamente nas vicissitudes do humano agir; Adão e Eva tal como não podiam errar, também não podiam pecar; a menos que violentassem, como violentaram, o redil Preternatural e Sobrenatural onde se encontravam.

Perdida a inocência original, a tendência ontológica para o Bem, redundou em tendência ontológica para o mal. O pecado original arrasta como consequência uma grande dificuldade (mas nunca uma impossibilidade) na prática do Bem.

No Anjo, a inteligência é instantânea e intuitiva no resplendor das espécies inteligíveis da sua constituição natural; nesta ordem não pode errar, nem pecar. Ao serem elevados à Ordem Sobrenatural, e submetidos a uma prova, muitos Anjos pecaram; todavia a sua constituição ontológica, perfeitíssima, impedia-os, eternamente, de qualquer tipo de penitência:TAL COMO PECARAM, ASSIM ETERNAMENTE FICARAM.

Contemplamos desta forma que existe uma unidade de ser muito profunda entre inteligência e vontade; quando esta última peca contra a ordem natural e (ou) sobrenatural, a repercussão na inteligência é imediata.

Quando a consciência do homem peca directamente contra a sua própria sinceridade interior, contra qualquer tipo de Ordem objectiva, nem mesmo materialmente pode participar da Lei Eterna, tal homem deve ser considerado um mero criminoso de delito comum (ainda que não pratique nenhum crime externo), e a sua inteligência torna-se prisioneira dos mais torpes Juízos temerários, das mais infames fabulações.

Quando a consciência do homem é interiormente certa, sincera e objectiva, mas NÃO É RECTA, pois destrói a Ordem Sobrenatural e com ela oblitera o princípio fundamental da Fé Católica, pode ainda participar, MATERIALMENTE, da Lei Eterna, MAS NÃO SE PODE SALVAR ( a menos que faça penitência). O dano na inteligência é menor, MAS REAL; visto que a Graça Santificante providencia EXTRÌNSECAMENTE, uma intensificação da inteligência natural.

Na falsa Igreja conciliar, na nunca suficientemente amaldiçoada ex-Igreja Católica, encontramos em geral heresiarcas, a quem a destruição do princípio fundamental do catolicismo, abalou de tal forma os alicerces naturais da sua personalidade, que transformou muitos deles EM CRIMINOSOS DE DELITO COMUM; concomitantemente a sua inteligência natural foi de tal modo obnubilada pelo pecado, que não dizem coisa com coisa, proporcionando, mesmo a não crentes, um penosíssimo espectáculo. Conscientes da sua própria ruína religiosa, intelectual e moral,  eles apenas encontram refrigério atormentando sàdicamente os verdadeiros católicos.

Imploremos a Deus Nosso Senhor, a Sua Mãe Santíssima, a Graça da indefectibilidade na Ordem Sobrenatural, garantia primeira e última da mais profunda dignidade da Espécie Humana.

LOUVADO SEJA NOSSO SENHOR JESUS CRISTO

Lisboa, 22 de Agosto de 2013

IMACULADO CORAÇÃO DE MARIA, JÓIA DA SABEDORIA DIVINA

avemariaA Sabedoria é o cerne da Criação, e na Revelação Maria a representa

«O Senhor me possuiu no princípio da sua obra, antes de seus feitos mais antigos. Desde a eternidade fui constituída e antes que a Terra fosse criada. Ainda não havia os abismos e eu já estava concebida; ainda não existiam as fontes das águas; ainda não estavam assentados os montes; antes de haver outeiros, eu já havia nascido antes do Senhor ter criado a terra e traçado seus eixos. Quando Ele fixava o céu, eu lá estava presente; quando estabelecia a lei dos abismos e firmava no alto a região etérea; quando fixava o termo do mar e das fontes e assentava os fundamentos da Terra; Eu estava com Ele, medindo todas as obras.

E cada dia era de encanto na Sua presença, brincando com o globo da Terra, e deliciando-me em estar com os filhos dos homens. Portanto meus filhos, ouvi-me: Felizes os que seguem os meus caminhos e as minhas instruções para serem sábios. Felizes os que me ouvem e velam todos os dias à porta de minha casa. Nunca a desprezeis… Quem me encontra, encontra a vida, e a salvação no Senhor; quem me perde, arruína a própria alma; quem me odeia opta pela morte». (Provérbios 8, 22-36)

“Maria é a obra-prima por excelência do Altíssimo, cuja sabedoria e elevação reservou para Si” (Tratado da verdadeira devoção à Santíssima Virgem, São Luis Maria Grignion de Montfort).

Por tudo isto, já vislumbrar a  parte especial de Maria no esplendor da Criação de Deus é uma graça. Tanto mais acolher a sequência dos seus sinais, como foram dados em Paris (na Capela de Nossa Senhora da Medalha Milagrosa, na rue du Bac), na Montanha de La Salette e finalmente em Fátima. São alguns dos luminosos sinais de salvação para os nossos tempos tenebrosos.

«Feliz o homem que encontrou a sabedoria e alcançou a prudência. Adquiri-las vale mais que prata; rende mais que fino ouro; é mais preciosa do que qualquer pérola, Nenhum valor se iguala a ela. Na mão direita ela é vida longa; na esquerda, riqueza e honra. Formosos são os seus caminhos e de paz as suas veredas. Ela é árvore de vida para os que dela colherem e de felicidade para os que a cultivarem. O Senhor fundou a Terra na sabedoria, e firmou o céu na prudência. Pela sabedoria são superados abismos e das nuvens destila o orvalho» (Pr. 3, 13-20)

Sobre a Imaculada São Pio X ensinou:

“No meio deste dilúvio de males, nos aparece diante dos olhos a Virgem clementíssima, como arbitra de paz entre Deus e os homens – Colocarei o meu arco-íris nas nuvens e será o sinal do pacto entre Mim e a terra. Desabe a tempestade e se obscureça o céu: ninguém desespere. À vista de Maria, Deus se aplacará e perdoará. […] Creiam os povos e confessem abertamente que Maria Virgem, desde o primeiro instante da sua concepção, foi isenta de toda mancha; com isto mesmo será necessário admitir também o pecado original, e a redenção dos homens por obra de Cristo, o Evangelho, a Igreja, e até a mesma lei da dor: assim, quanto sabe de “racionalismo” e “materialismo” será arrancado e destruído, e permanecerá para a doutrina cristã o mérito de guardar e defender a verdade… 

‘O arco-íris estará nas nuvens e Eu, ao contemplá-lo, lembrar-Me-ei do pacto eterno. E não retornarão as vagas do dilúvio para exterminar os vivos. Sem dúvida, se como convêm, confiamos em Maria… presenciaremos que ela é sempre aquela Virgem potentíssima – que com o seu pé virginal esmagou a cabeça da serpente” (Enc. Ad diem illum laetissimum, 2/2/1904). 

Não haverá magia demoníaca que poderá vingar por muito tempo na presença de Maria.

 

SABEDORIA, TEMPO E ETERNIDADE

Alberto Carlos Rosa Ferreira das Neves Cabral

Escutemos o Livro do Eclesiástico:

1- «Toda a Sabedoria vem de Deus, e está sempre com Ele. A areia do mar, as gotas da chuva, e os dias dos séculos, quem os poderá contar?

A altura do Céu, a amplitude da Terra, a profundidade do abismo, quem as poderá medir?

A Sabedoria foi criada antes de qualquer coisa, e a sábia inteligência existe desde todos os tempos.

A quem jamais foi revelada a raiz da Sabedoria, e os seus desígnios, quem os conhece?

Um só é o sábio e sumamente terrível, sentado no Seu Trono: Deus.

Ele a criou, contemplou-a, mediu-a, e difundiu-a por todas as Suas obras, e por todos os mortais, na medida da Sua liberalidade, e outorgou-a aos que a amam.

O temor de Deus é glória e honra, alegria e coroa de exultação.

o temor de Deus deleita o coração, e dá alegria e longa vida.

Aquele que teme o Senhor será feliz no instante derradeiro, e no dia da sua morte será abençoado.

O PRINCÍPIO DA SABEDORIA É O TEMOR DO DEUS, temor que é criado com os fiéis no seio materno.

Estabeleceu-se entre os homens verazes desde a Antiguidade, e permanecerá sempre com a sua descendência. (Eclo 1, 1-13)

Entre os Dons do Espírito Santo a Sabedoria ou Sapiência ocupa o primeiro lugar; efectivamente ela comporta um princípio Sobrenatural duma riqueza infinita, quer na sua extensão, quer na sua compreensão, quer na forma como nobilita simultaneamente a inteligência e a vontade, aperfeiçoando a virtude teologal da Caridade.

Os Dons do Espírito Santo constituem moções Sobrenaturais da inteligência e da vontade, que Deus coloca em nós, sem nós. Enquanto que nas virtudes Teologais e Morais, somos nós que, com o auxílio da Graça, operamos as nossas faculdades em ordem a um fim; nos Dons do Espírito Santo, é o próprio Deus que opera em nós, colocando directamente em nós esse fim, de ordem intelectivo (ou) e volitivo; a nossa alma é a sede, não o princípio desse fim. Todavia, ao ser-nos facultada a Graça Santificante, são-nos igualmente providenciados HÁBITOS RECEPTIVOS, para que permaneçamos mais aprimoradamente ordenados em acolher os referidos Dons.

Voltando à Sapiência, por ela “saboreamos” Sobrenaturalmente o próprio Deus: a Sua Asseidade, a Sua Infinitude, a Sua Eternidade, a Sua Simplicidade, a Sua Beleza infinita, o Seu Diálogo Trinitário na absoluta Unidade da Essência; E TUDO ISTO NUMA SÓ ESPÉCIE INTELIGÍVEL SOBRENATURAL, BEM COMO NUM SÓ ACTO DE VONTADE; COM QUE  DEUS FECUNDOU A NOSSA ALMA.

Na Ordem natural é completamente impossível abarcarmos, no conjunto, e no particular, uma espécie inteligível tão extensa e tão rica; e mesmo na Ordem Sobrenatural, o acto de Fé Teologal, que procede dum Hábito igualmente Sobrenatural, não logra obter tanta compreensão, com tanta extensão. Quando aumenta a extensão dum conceito colectivo, aumenta igualmente a compreensão total; mas decresce a compreensão do particular, a menos que se intensifique a potência da Luz intelectual. Os Anjos necessitam de muito menos espécies inteligíveis infusas do que os homens precisam de espécies abstraídas, e quanto mais elevada é a potência intelectual angélica, de menos espécies necessitará. Em Deus há sòmente uma Espécie, Infinita, que é a Sua própria Essência.

TODAVIA NÓS SEREMOS JULGADOS PELAS VIRTUDES TEOLOGAIS E PELA GRAÇA SANTIFICANTE; OS DONS DO ESPÍRITO SANTO POSSUEM COMO OBJECTIVO NOBILITAR TAIS VIRTUDES.

Os Dons do Espírito Santo, em especial a Sabedoria e o Entendimento enxertam-nos, de certa maneira, já na Eternidade. O Entendimento ministra-nos, sem estudo especial, um conhecimento claro dos Mistérios da Fé; como que particularizando o conteúdo da Sapiência, projectando nova Luz Sobrenatural sobre os referidos Mistérios. Mas por isso mesmo, esses Dons constituem uma verdadeira antecipação do Céu. Para o Justo o Céu começa já neste mundo; assim como para o ímpio o Inferno começa também já neste mundo.

O tempo constitui uma forma degradada de duração, se o compararmos à eviternidade ou evo das substâncias espirituais, que tem princípio e não tem fim, e ainda mais à Eternidade Divina, que não tem princípio nem fim. O tempo é dispersão do ser na duração; a Eternidade e o evo são posse total do ser e do tempo, são um presente perpétuo. O tempo é numerabilidade e sucessão; a eternidade e o evo não possuem número nem sucessão.

A nossa eternidade no Reino dos Céus constituirá uma verdadeira e real participação da Eternidade de Deus; perante ela, a nossa peregrinação no tempo é uma sombra quase cega, E SÓ A GRAÇA DE DEUS A PODE ILUMINAR.

O tempo é o estado em que o dinamismo das criaturas, cingido pelos limites da própria essência, procura alcançar a Deus (ainda que expressamente O negue). A criatura nunca pode fazer cessar a sua contingência, a sua finitude; só que o seu dinamismo ontológico natural e sobrenatural é desordenadamente desperdiçado com a criatura, considerada agora um absoluto em si mesmo: EIS A GRANDE TRAGÉDIA MORAL DA HISTÓRIA DA HUMANIDADE.  Foi este precisamente o pecado do Anjo – elevado à Ordem Sobrenatural, pretendeu poder atingir por si mesmo, na Ordem natural, aquilo que só poderia alcançar na amizade Sobrenatural com Deus, participante da natureza Divina; com a agravante, para os Anjos, do facto das suas próprias perfeições naturais, bem como da sua condição ontológica, lhes facultar um conhecimento intuitivo de Deus na Ordem natural.

Até ao fim do mundo corruptível existirá o Purgatório, o qual embora intrinsecamente eviterno, possui contudo uma comensurabilidade extrínseca com o mundo terreno. O Limbo constitui uma eternidade preternatural; é um mundo imensamente superior ao nosso, mas não Sobrenatural. Todavia as almas das crianças sem baptismo que faleçam antes da idade da razão, bem como as almas dos adultos que, por doença, nunca  tenham possuído a mesma razão, não experimentarão dor alguma por essa privação, VISTO NUNCA HAVEREM SIDO ELEVADOS AO ESTADO SOBRENATURAL PELO SANTO BAPTISMO OU PELA GRAÇA SANTIFICANTE.

O Inferno é precisamente o Céu em absoluto negativo. Aí, o presente perpétuo que é a Eternidade, apenas multiplicará a dor moral e física ao infinito. Exactamente por isso, os modernistas, que negam o Inferno – FICAM IMEDIATAMENTE SEM O CÉU; E ENTÃO PERDEM TAMBÉM A DEUS PESSOAL; CAEM NO NADA.

Deste mundo temporal e triste só devemos conservar tudo aquilo que possui um valor ETERNO; das vicissitudes da existência, acontecimentos, acções, palavras e obras, só permanecerá para a Eternidade tudo o que incorporar, um enquadramento, uma ordenação Sobrenatural. Festas e festarolas mundanas e obscenas, como as promovidas pela nunca suficientemente amaldiçoada Igreja conciliar, quimeras e sonhos terrenos, ambições desordenadas, TUDO SERÁ ENGOLIDO PELO FOGO ETERNO. É o mundo, em sentido moral, que está condenado; o mundo enquanto inimigo feroz da alma, o mundo, tal qual foi sempre condenado por Nosso Senhor Jesus Cristo, bem como por Sua Santa Madre Igreja. Nunca houve seita mais mundana, mais carnal, mais pornográfica, mais monstruosamente hedionda que a seita conciliar, autêntica ante-câmara do Inferno, verdadeiro dejecto de satanás.

Nunca olvidemos solicitar aos Céus, nas nossas orações, que nos ilumine com os Seus Dons santíssimos, com as Suas dulcíssimas ilustrações, para maior Glória de Deus e salvação das nossas almas.

LOUVADO SEJA NOSSO SENHOR JESUS CRISTO

Lisboa, 19 de Agosto de 2013

SERÁ POSSÍVEL PROVAR AS VERDADES DA FÉ MEDIANTE MÉTODOS CIENTÍFICO-POSITIVOS? (Ilustração final: Hasard ou conception)

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Alberto Carlos Rosa Ferreira das Neves Cabral

Escutemos o Apóstolo São João, na sua primeira Epístola:

« Caríssimos, escrevo-vos a vós, jovens, porque sois fortes: A Palavra de Deus permamece em vós, e vencestes o maligno! NÃO AMEIS O MUNDO, NEM O QUE HÁ NO MUNDO. O amor do Pai não está em quem ama o mundo, porque tudo o que há no mundo – a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos, o orgulho de vida – nada disto vem do Pai, mas do mundo. Ora o mundo passa, mais a sua concupiscência; porém aquele que faz a vontade de Deus, esse permanece eternamente.» (1ª Jo 2,14-17)

e São Paulo, na sua Epístola aos Romanos:

« Irmãos: Quem nos arrancará ao amor de Cristo?! A tribulação, a angústia, a fome, a nudez, os perigos, a perseguição, a espada?! (Pois assim está escrito: Por vossa causa estamos constantemente ameaçados de morte, e olhados como ovelhas para o açougue). Triunfamos, porém, de todas as contrariedades, por causa d’Aquele que nos amou. Na verdade eu estou absolutamente seguro de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as potestades, nem o presente, nem o futuro, nem a violência, nem o que há de mais elevado, ou de mais profundo, nem finalmente criatura alguma, poderá arrancar-nos ao Amor de Deus, revelado ao mundo por Nosso Senhor Jesus Cristo. (Rom 8, 35-38)

A Santíssima Trindade, na Sua Verdade Incriada, na Sua Santidade, na Sua Infinita e Eterna beleza, ao criar o mundo visível e invisível, Anjos e Homens, ao criar o Reino animal, o Reino vegetal, e o Reino mineral, tudo integrando hieràrquicamente numa magnífica harmonia, em que as partes nobilitam o Todo, e o Todo nobilita as partes, ao dotar a Sua Obra de Leis físicas, químicas e biológicas, imutáveis, consagrou Deus Nosso Senhor o Universo material, colocando-o ao serviço do homem, o qual por sua vez glorificará formalmente a Deus, contemplando racionalmente tudo aquilo que fora criado, precisamente, para anunciar extrìnsecamente a Glória de Deus Uno e Trino.

As Leis Santíssimas da Providência, expressão da Lei Eterna, princípio necessário de Ordem de qualquer natureza criada ou possível, Leis que configuram na Inteligência Divina o eterno plano do mundo efectivamente criado, Leis que NÃO SÃO ARBITRÁRIAS, porque intrìnsecamente conformes ao Bem Absoluto e Incriado, essas Leis que tudo dispõem suavemente, hieràrquicamente, subsidiàriamente, COLOCAM O CRIADOR DO UNIVERSO FORA E INFINITAMENTE ACIMA DA POSITIVIDADE CIENTÍFICA DAS LEIS NATURAIS, EMBORA ESTAS MESMAS LEIS CONSTITUAM UM APELO LANCINANTE À EXISTÊNCIA DE DEUS.

Quer dizer: As provas racionais da existência de Deus, sendo absolutamente OBJECTIVAS, não possuem (nem podiam possuir) contudo uma natureza CIENTÍFICO-POSITIVA; são EX RATIONE e CUM VOLUNTATE, pois sendo racionais na operação, dependem contudo duma determinada orientação fundamental e filosófica, dependem do acto transcendental de SER, da pessoa que as pensa; por isso, sendo racionais, são igualmente meritórias (na Ordem Natural).

No Anjo, continuando a supor tudo na Ordem Natural, a sua constituição ontológica puramente espiritual, e em que cada Anjo constitui, por si, uma só espécie, projecta imediatamente a existência de Deus, sem necessidade de raciocínio – NÃO HÁ ANJOS ATEUS, HÁ SIM ANJOS QUE ODEIAM A DEUS (na Ordem Sobrenatural).

Voltando aos homens, e ainda na Ordem natural, é necessário compreender bem que a verdadeira objectividade se situa INFINITAMENTE para lá da esfera científico-positiva; esta última é legítima, sem dúvida, dentro de certos limites, desde que não constranja a ordem filosófica dos seres e dos fins, a Ontologia e a Metafísica, senão incorre-se no POSITIVISMO, aberração do entendimento, mas que constitui parte hegemónica do património filosófico dos últimos trezentos anos.

A IGREJA CONCILIAR, A NUNCA SUFICIENTEMENTE AMALDIÇOADA EX-IGREJA CATÓLICA, TENDO DESTRUÍDO TODO O PATRIMÓNIO FILOSÓFICO TOMISTA, ANIQUILADO OS “PREAMBULA FIDEI,” NECESSÀRIAMENTE SUBJECTIVOU DEUS, INCORPORANDO-O NO FLUXO DOS FENÓMENOS SENSÍVEIS, EXPRESSOS POR OPINIÕES HUMANAS.

Neste quadro conceptual, evidentemente que também se não pode proceder à prova científico-positiva da imortalidade da alma, pois sendo esta última uma realidade de ordem ontológica, É INCOMENSURÁVEL com a ordem científico-positiva.

Passando à Ordem Sobrenatural:

A existência positiva, histórica e objectiva de todas as realidades Bíblicas, desde Adão e Eva até Nosso Senhor Jesus Cristo, passsando pelos Patriarcas, Reis, Sacerdotes e Profetas, passando por São João Baptista, os Apóstolos e Maria Santíssima, É DE FÉ DIVINO-CATÓLICA DEFINIDA. Todavia a mais profunda realidade SOBRENATURAL desta História da Salvação, SÓ A FÉ TEOLOGAL NO-LA PODE FACULTAR.

A Fé Teologal, Sobrenatural, é EX VOLUNTATE e CUM RATIONE, ou seja: A Fé constitui formalmente um acto de vontade, que fundamentado na racionalidade genérica dos motivos de credibilidade, (A Santa Madre Igreja constitui o principal motivo de credibilidade) impera, primeiro a credendidade (deve-se crer), e depois impera a própria crença, a Fé Teologal; esta última não é pois imposta pela estrita e intrínseca racionalidade científico-positiva do Património Revelado, É A VONTADE QUE AUXILIADA PELA GRAÇA SOBRENATURAL CONSAGRA A VERDADE REVELADA ( EM SENTIDO MATERIAL), FORMALMENTE, SOBRENATURALMENTE, COMO REVELADA.

Os Anjos, pela sua já referida constituição ontológica, são impecáveis na Ordem Natural, mas uma vez elevados à Ordem Sobrenatural, podem pecar, como de facto muitos deles pecaram. É certo, que na altura da prova, os Anjos possuíam a Graça Santificante, e o seu pecado foi o da auto-suficiência e do orgulho. Portanto, se na Ordem Natural tudo é intuitivo para o Anjo, já não é assim na Ordem Sobrenatural, e só nesta Ordem existe mérito e demérito para o Anjo.

No homem, enquanto formado por corpo material e alma racional, as realidades espirituais são mais difíceis de alcançar, a própria opacidade da matéria obriga o homem a raciocinar (o que não acontece com os Anjos), o que torna o seu conhecimento natural mediatizado, pesado e confuso.

Donde se conclui que a resposta ao título do artigo é um rotundo NÃO!

Quer as verdades de Fé, quer os “Preambula Fidei”, são INCOMENSURÁVEIS com a ordem científico-positiva. Caso contrário, qual seria o nosso mérito? Se tudo fosse uma questão de 2+2=4, donde promanaria o nosso valor moral, natural e Sobrenatural?

Um especialista em Antiguidade Oriental pode crer em toda a Bíblia com “fé humana” isto é: como um especialista em Antiguidade Clássica acredita na vida e obra dos filósofos gregos. Mas o referido especialista em Antiguidade Oriental necessàriamente suspenderia o seu Juízo diante dos milagres e das ressurreições, fundamentalmente diante da Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo; e a razão é que a ordem científico-positiva ESTÁ INFINITAMENTE LONGE DE ESGOTAR A RIQUEZA DA OBJECTIVIDADE. Os milagres e as ressurreições e até mesmo as profecias escapam à ordem científico-positiva; mas não só, a Sagrada Escritura, bem como a Sagrada Tradição, na sua positividade histórica, irradiam permanentemente um apelo, um clamor espiritual, uma exigência sobrenatural, que ultrapassa infinitamente essa mesma positividade histórica, rumo à objectividade perfeita e Eternamente perene: A FÉ, A ESPERANÇA, E A CARIDADE!

É natural que a maldita Igreja conciliar, inimiga de Deus e dos homens, acolha muito contente as chamadas provas científicas da imortalidade da alma. O caos mental modernista não logra proceder a qualquer tipo de distinção; confunde totalmente o natural e o Sobrenatural, o humano e o Divino, o filosófico e o teológico, confunde tudo. Razão tinha a Santa Madre Igreja em considerá-los os seus piores inimigos.

O cientismo, erro condenado pela Santa Igreja, é que defende que todos os problemas filosóficos e teológicos serão um dia resolvidos pela ciência; erro tão absurdo que chega a parecer mentira como alguém o possa ter defendido. Não estamos perante filósofos, nem perante teólogos, nem mesmo perante cientistas. O verdadeiro cientista sabe onde deve deter-se, onde as fronteiras do ser necessàriamente o limitam, e deverá saber, sobretudo, que nunca nenhuma inteligência finita, Anjo e homem, individual ou colectivamente, poderá algum dia esgotar todo o conhecimento acerca do Universo.

Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo

Lisboa, 15 de Agosto de 2013

O CONHECIMENTO DO HOMEM É LIMITADO, SEU ORGULHO NÃO!

Hasard ou conception

Novus Ordo Watch

Sedevacantismo Portugal.